O caminho que percorri para tentar entender (ou, ousadamente, descrever) um sentimento foi este: o registro de um instante que remete a séculos passados e que, no entanto isso não procede a uma passagem de tempo tão distante.
Abstraí aquilo que no ser amado sempre me intrigou e a reconstituição, me parece, teve ligeiros ares de obra de arte. Questionei se seria possível que uma pessoa em sua essência tivesse um caráter artístico e a resposta aparentemente não foi delimitada pela moldura como no restante dessa imagem que trago à tona.
Sempre trazemos em nossa mente referências de imagens e experiências passadas, porém cada obra de arte possui uma contemplação particular. Inquietava-me saber o porquê de eu me sentir tão irreconhecível diante do ser amado.
Sendo assim, isolei a imagem do objeto para um espaço bem distante da nossa realidade, porém bastante presente no meu imaginário. O Nu da História da Arte sempre me passou a impressão de configurar a modelo em um objeto de desejo que necessita de acolhimento, perdido diante do campo, geralmente um verde garboso. Paralisado e enjaulado para a contemplação seja no sofá convidativo, seja nas telas de computadores, o objeto ainda é presa por ação da vistosa moldura que delimita a ação da cena e parece não ceder espaço ao fora-de-campo. Isso ocorreria se a imagem continuasse latente, pois nem mesmo a moldura foi capaz de impedir que a imagem se estendesse e ganhasse mais e mais significados a partir do instante em que veio ao mundo.
Nu em pêlo, o ser amado é selvagem e sua barbárie parece ser domada através do desdobramento do real. Seriam de fato precisos tantos filtros para essa alteridade funcionar? Talvez a pureza que exista na beleza clássica e de simples contemplação seja mais direta e de fácil compreensão. Talvez quem precisasse de grilhões e enlaçamento fosse o Operator e não o referente, tranqüilo que repousa diante de um verde infindo. Afinal, se o campo dessa fotografia se estendesse existiriam limites para a possibilidade de questões? Quem sabe esta nova questão preenchesse a lacuna da minha inquietação.
Neste monólogo (a princípio), responderia a questão do início do texto imaginando que talvez o amadurecimento na relação com a arte me fez perceber o que é significativo em minha produção e em minha vida… O meu encantamento pelo ser amado é o responsável pelo brilho que o destaca do restante de toda a realidade e que me faz imaginar e imaginar questões.
16/11/09